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Quem és tu?

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Quem és tu

Uma experiência que é mais ou menos comum nos retiros zen, é o mestre perguntar às pessoas que estão presentes no retiro. 
- Quem és tu? 


E as pessoas, a maioria delas vai responder: 
- Ah eu sou o/a fulano/a tal. 
Mas ele vai insistir. 
Mas quem és tu? 
E a pessoa vai responder, se calhar, com a idade e com o sítio de onde vem.  
Mas o mestre volta a perguntar. 
Sim, mas isso é o teu nome, e é o que tu fazes e de onde vens. 
- Mas quem és tu? 

E a pessoa, vai responder, se calhar, outra coisa, com a qual se identifique.

Mas a realidade, a essência de cada um de nós, de facto, parece que ninguém consegue saber. Ninguém consegue exprimir. 

Então este capítulo é para te dar algumas pistas da exploração desta pergunta, que é:

Quem és tu?

Quem és tu e quem de facto somos nós?

Será que é possível nós respondermos a esta pergunta?

No budismo e noutras tradições religiosas fala-se da roda do Samsara, ou seja, do ciclo de encarnação e de reencarnação, nascimento a morte, e um novo renascimento. 

Parece haver muitas filosofias e religiões que acreditam nisso, e, portanto, não podemos saber se é verdade ou se é mentira.

Mas também colocamos muito as questões;

  • Será que nós nascemos com um propósito específico? 
  • Será que nós nascemos com um destino pré-programado? 
  • Será que todos nós temos de facto uma missão, ou até, diversos níveis de missão como algumas pessoas parecem acreditar?

Estas questões têm sido discutidas ao longo de vários séculos por vários pensadores e basicamente é uma questão muito comum a toda a humanidade, e que em certa forma nos cria alguma agonia, algum sofrimento, pelo menos, algum desconforto. 

 

As pessoas têm tentado encontrar a resposta a esta questão da auto-identidade, sobretudo, por 4 grandes vias:

  • As pessoas mais intuitivas têm a preferência, normalmente, de procurar essa resposta na religião e nas questões espirituais. 
  • As pessoas mais mentais preferem socorrer-se da segurança, do raciocínio lógico e nomeadamente então da filosofia;
  • As pessoas mais sensitivas, que são aquelas que privilegiam os aspetos mais práticos da vida e do ser, são pessoas que vão procurar a resposta a essa questão na ciência; 
  • As pessoas mais emocionais, que precisam mais de expressão, de mais ligação – de expressão de si próprias e de ligação a outras pessoas, vão procurar então a resposta na arte.

Se reparares, a forma como tu abordas esta questão, ou seja, o sentido que esta pergunta” quem és tu, ou quem somos nós?” ganha para ti, já diz alguma coisa sobre a tua identidade.

- Se tu pensas que é uma questão filosófica, provavelmente, tu és mais mental; ou se tu pensas que é uma questão espiritual, provavelmente tu és mais intuitivo;

- Se tu pensas que é uma questão científica, provavelmente és mais sensitivo, e se tu pensas que é uma questão artística, provavelmente tu és uma pessoa mais emocional. 

Então já encontrámos aqui uma pista para a nossa busca sobre quem nós somos, que tem a ver então com as funções biológicas do nosso cérebro e as funções da nossa psique.

O Carl Jung dizia que nós temos 4 grandes funções da psique: a intuitiva, a sensitiva, a emocional e a racional, e na verdade, e foi encontrada uma correspondência entre estas funções da psique e determinadas áreas específicas do nosso cérebro. 

Parece que o nosso cérebro está organizado de uma determinada forma em que estas funcionam melhor em determinadas áreas. Portanto, o desenvolvimento da tua personalidade, que vai sempre compor estas 4 funções, mas vai variar, e vai diferir na maneira como tu as ordenas e como tu as organizas essas funções. 

Há sempre uma função primária, uma primeira auxiliar, uma segunda auxiliar e então a quarta, que normalmente não se atribui um nome específico. Então isto corresponde de facto a áreas do teu cérebro, e a forma como o teu cérebro funciona e afeta toda a tua personalidade.

Então começa aqui também uma ligação entre o teu corpo – que também é outra via para tu te definires - e o teu pensamento ou a tua psique. Há de facto um ponto de ligação que parece estar cada vez mais documentado e cada vez mais comprovado. 

Um filósofo e pensador brasileiro, Mário Cortella, tem uma expressão um bocado como provocatória para tentar então dar mais uma pista a esta exploração de quem somos nós. 

Então ele diz: 

“O Homem não nasce pronto para se ir gastando, ele nasce não pronto para se ir construindo. Ou seja, se calhar as respostas não estão todas pré-determinadas e nós não nascemos com uma função, não nascemos com um propósito, com uma missão ou com um destino, mas, temos a possibilidade de nós próprios escolhermos qual é o sentido, qual é o propósito, qual é a missão que nós podemos atribuir à nossa vida; qual é o significado que nós queremos atribuir à nossa vida.

E isto então vai fazer parte da nossa identidade e pode ser uma escolha nossa. 

Então isto leva-nos a uma responsabilidade. Se nós temos a liberdade para fazer escolhas ela corresponde também à responsabilidade de as fazer. 

Então o homem não se pode definir por pré-determinismos, mas ele tem a capacidade de ele próprio construir a resposta a esta pergunta: - Quem sou eu? 

Um outro filósofo, que é o Jean-Paul Sartre, tinha várias expressões também provocatórias e que eu gostaria de te deixar aqui como um contributo de exploração e de reflexão a esta pergunta, sobre a tua identidade: Quem és tu?

Então a primeira grande frase que eu gostaria de deixar aqui é que:

“Nunca se será ninguém enquanto não se encontrar alguma coisa pela qual se estaria disposto a morrer”.

Aqui, Jean-Paul Sartre, faz uma alusão clara à questão dos valores, à questão das causas. 

Então a que causas é que eu estou disponível para sacrificar a minha vida? Qual era o valor que eu poderia dedicar-me? Que causa é que poderia ter o valor da minha própria vida?

Uma outra provocação do Jean-Paul Sartre, é que o homem está condenado a ser livre.

Como eu dizia há pouco, a liberdade corresponde também à responsabilidade, ou seja, o reverso da medalha da liberdade é a responsabilidade. Se nós temos a capacidade de fazermos as nossas escolhas e de termos liberdade para escolhermos os caminhos que queremos traçar e seguir, então também temos a responsabilidade de arcar com as consequências. 

E então ele dizia: “Viver é isto, é ficar o tempo todo a equilibrarmo-nos entre escolhas e consequências”.

No entanto, ele também tem uma outra frase que de alguma forma nos liberta, que diz, que “o importante não é o que fazem do homem, mas o que ele faz com o que fizeram dele”, ou seja, basicamente o que importa, não é aquilo que são as tuas circunstâncias, mas aquilo que tu fazes com as tuas circunstâncias. 

Então a definição da identidade não depende do contexto e do ambiente em que o indivíduo vive, mas começa a depender, sobretudo, de si próprio, da sua iniciativa e da sua escolha. 

Com base nessas escolhas nós vamos ter determinada realidade em específico e de facto contribui para esta realidade um conjunto de comportamentos, ou seja, também seriam boas pistas para nós explorarmos a resposta à questão. A nossa realidade, a forma como nós vivemos num determinado momento, será que isto ajuda a definir quem nós somos? Por outro lado, os comportamentos que levaram às ações, que levaram a essa construção da nossa realidade, será que isto também diz alguma coisa sobre nós?

Depois um bocadinho mais profundo, que tem a ver com a questão das escolhas que vamos fazendo.Que comportamentos é que nós vamos preferindo adotar? Como é que nós tomamos determinadas decisões?  Esta também é uma outra pista.

Uma outra pista é: Como é que nós percebemos o mundo à nossa volta? De uma forma mais global, mais intuitiva ou de uma forma mais prática? Sim, a forma como nós percebemos também vai dizendo muitas coisas sobre a nossa personalidade e também nos ajuda a construir esta resposta.

Num nível ainda um pouco abaixo, também tem a ver com a questão das nossas crenças – As nossas crenças, aquilo em que nós acreditamos sobre nós próprios e sobre o mundo, acaba por contribuir muito para a forma como nós percebemos o mundo, e depois desenvolve-se então esta cadeia. 

Para as nossas crenças também contribuem os frutos, os conhecimentos adquiridos com as nossas experiências ao longo da nossa vida e a forma como as vamos também interpretando e como vamos recolhendo esses dados e eles próprios vão se incorporar na nossa personalidade, na nossa identidade. 

Claro que também há o nível dos nossos valores. Nós também somos os nossos valores, somos a nossa ética, somos o nosso carácter. Uma boa parte dos valores são comuns a todos os seres humanos, e nós adquirimo-los da sociedade.  Os princípios da liberdade, da igualdade, da justiça tendem a ser cada vez mais universais. Mas de qualquer das maneiras há outros valores que nós vamos incorporando, e a forma como nós ordenamos este conjunto de valores, ou seja, a prioridade que damos e que atribuímos a cada um deles é muito individual, é muito fruto de uma escolha consciente ou inconsciente que fazemos sobre a forma como nós ordenamos esses valores. 

Também somos aquelas características da nossa personalidade de que te falava há pouco. Há pessoas mais intuitivas, há pessoas mais emocionais e isso também nos traz necessidades mais específicas. 

Os mentais têm necessidades diferentes das pessoas emocionais, as pessoas mais intuitivas têm necessidades diferentes das pessoas sensitivas e não há nenhumas necessidades que de facto sejam mais legítimas do que outras. Cada ser humano desenvolve um conjunto de necessidades pessoais de autorrealização que são individuais e que são únicas. 

Também somos o nosso desejo, sabes, a nossa emoção, e a manifestação desse desejo que são os nossos sonhos; também somos esses sonhos - também fazem parte da construção da identidade. E, sobretudo, somos um grande desejo de nos ligarmos a outras pessoas, porque nós sabemos que, consciente ou inconscientemente, nós sabemos que ligarmo-nos às pessoas certas é a forma de nós nos podermos expressar tal como nós somos e de adquirirmos a verdadeira liberdade para nos construirmos a nós próprios.

Então basicamente estas são algumas pistas para que tu consigas definir-te a ti próprio. Ao longo das próximas aulas e dos próximos vídeos, tu vais assimilar alguns outros conceitos e alguns outros contributos que te vão desafiar neste questionamento tão importante para que tu te possas definir.  

Eu não sei se é possível tu responderes a esta pergunta, “quem eu sou?”, agora. 

Mas podes responder à questão, o que é que eu quero ser? 

E para que depois mais tarde, um dia quando olhares para trás, possas responder com maior plenitude, quem tu és. E que isso seja, de preferência, alinhado com aquilo que foram as tuas vontades, e com aquilo que é a expressão do teu próprio ser, da tua própria essência. 

Eu espero então que este vídeo tenha sido útil para ti e que tenha sido provocatório aí de algumas reflexões sobre a profundidade da nossa identidade e quais são os elementos que contribuem neste processo de construção de identidade. 

E espero que tal como eu, tu tenhas decidido ou que tenhas optado pela via da autoconstrução e que assumas esta responsabilidade, este propósito de te construíres a ti próprio, à imagem daquilo que são os teus valores, à imagem daquilo que são as tuas preferências, à imagem daquilo que é, no fundo, a tua essência.